Literalmente os motoristas se "engancham" no Cebolão de Igapó, Zona
Norte da capital. Os problemas de trânsito no trecho conhecido como
"Gancho" se localizam no entroncamento de quatro vias importantes que
dão acesso direto a três municípios - Natal, São Gonçalo do Amarante e
Macaíba, e vários destinos: Zona Norte, Ceará-Mirim, litoral Norte,
Touros, apenas para citar alguns. Ali existem vias municipais (avenidas
Presidente Médici e Tomaz Landim), estaduais (RN-060, a Estrada de
Regomoleiro) e uma federal (BR 101-Norte). Ou seja, é problema para todo
lado, e a solução depende da responsabilidade em todas as esferas:
governos federal, estadual e municipais.
 Situação
se agrava na alta estação, quando aumenta fluxo de veranistas que vão
para litoral Norte. Foto: CARLOS SANTOS/DN/D.A PRESS |
Todos
os motoristas que usam o trecho colecionam reclamações, especialmente
com os semáforos de quatro tempos instalados no Gancho. Na terça-feira,
3, por volta das 9h30 da manhã, o militar da reserva Geraldo de Oliveira
estava parado num engarrafamento. "Todo dia nesse horário tem esse
problema. Pra seter uma ideia, esse sinal tem três ou quatro tempos, não
sei ao certo. Mas se passar cinco carros é muito. O resto, tome gelo".
Luiz
dos Santos, taxista, trabalha num ponto em frente ao Nordestão, já no
município de São Gonçalo. "Trabalho nesse ramo há mais de cinco anos, e
não tem hora pra haver esse problema. A solução seria um viaduto ou a
rotatória com sinalização adequada. Já contamos quatro estudos de
topografia por aqui, e estamos aguardando um fim pra isso", diz ele.
O
transporte público também é prejudicado. José Wildes, motorista da
linha 77, Parque dos Coqueiros / Mirassol, reclama que normalmente gasta
25 minutos num trecho que, com via livre, não passaria nem três. "A
cada dia piora. Quem trabalha nessas linhas de ônibus sofre muito. No
terminal os despachantes cobram o cumprimento do horário. Os passageiros
também cobram, e você não tem como fazê-lo cumprir. De lá para cá
também tem o mesmo problema, especialmente quando os ônibus da
Guararapes são liberados. A fila vai bater depois do posto daSkol. É
muito transtorno".
O Cebolão Igapó também é utilizado pelos
veranistas em busca de lazer e descanso no litoral Norte, especialmente
na região de Touros. O marinheiro Schneider Azevedo, levava a família
para a praia no início da semana temendo que a situação piorasse com a
proximidade do feriado de Santos Reis, na última sexta-feira, dia 6.
"Nessa época de verão esse engarrafamento é muito comum. Com o fluxo de
pessoas para as praias, o movimento aumenta ainda mais", falou ele.
José
Ribamar Pinto Damasceno, auditor fiscal, também reclama da demora no
engarrafamento. Ele levou 25 minutos para percorrer o trecho entre o
viaduto de Igapó e o gancho que leva o mesmo nome. "Nos finais de semana
ninguém aguenta. Qualquer acidente que haja na ponte, por menor que
seja, o engarrafamento faz com que os motoristas passem entre 45 minutos
e uma hora aqui. Hoje nós estamos aqui há um tempão, e não houve nada
lá atrás", observou.
Sem sinal, trânsito flui bem
 Congestionamentos são rotina, diz o taxista Luiz dos Santos. FOTOS: CARLOS SANTOS/DN/D.A PRESS |
O
site Via Certa Natal acompanha diariamente o trânsito na capital do
Estado e em alguns trechos do interior. Hudson Silvestre, idealizador do
serviço que orienta os motoristas pela internet e redes sociais, revela
que o chamado Gancho de Igapó tem algumas curiosidades. "Nas terças e
sábados, o congestionamento na Tomaz Landim vai bater no viaduto Igapó, o
dia inteiro. Nos outros dias, o problema se concentra no fluxo
contrário, sentido capital. Isso se repete semanalmente sem que haja
colisão ou nada que justifique", aponta.
 O marinheiro Schneider Azevedo evitou espera no feriadão |
Os
motoristas também revelam outra curiosidade do entroncamento em Igapó.
"Se esse sinal tiver quebrado, o trânsito flui normalmente. É
impressionante, mas é a mais pura realidade", conta José Wildes, o
motorista do 77. "Você só vê isso aqui desocupado de carros se o sinal
quebrar. O pessoal sabe se organizar melhor do que com o sinal
funcionando", confirma o taxista Luiz dos Santos. "Seria simples
solucionar esse problema, inclusive já sugeri à PRF. O ideal seria que
ficasse um guarda controlando o tempo dos semáforos com uma botoeira na
mão", relata Hudson Silvestre.
"Sangria desatada": para soluções, não há prazosNão
há nenhum plano a nível municipal, estadual ou federal para resolver o
problema dos engarrafamentos no trecho conhecido como Gancho de Igapó a
curto prazo. Em nível de município, a responsabilidade sobre o trânsito é
da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de Natal (Semob). Além de
aguardar a duplicação da Avenida das Fronteiras (que dá acesso à Av.
Presidente Médici), prevista no projeto do Pró-Transporte, a secretaria
também aguarda uma obra que vai ser executada pelo Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes (DNIT): a construção de um viaduto.
Responsável
pela manutenção semafórica, a Semob garante que o que lhe coube já foi
feito no trecho. "Atendemos ao pedido da Polícia Rodoviária Federal
(PRF), e mudamos o sentido de fluxo de duas vias. Elas passaram a ter
sentido único ali nas imediações da loja Insinuante. Mas a solução
definitiva só virá com a construção desse viaduto do DNIT. Os problemas
de trânsito naquele trecho não afetam apenas aos motoristas, mas também o
sistema de transporte público. Os motoristas têm horários a cumprir,
que é pré-determinado", destaca o secretário-adjunto de trânsito da
capital, Haroldo Maia.
Já o diretor-geral do Departamento
Estadual de Estradas de Rodagens (DER), Demétrio Torres, classificou o
problema com uma expressão tipicamente regional. "Ali é uma sangria
desatada", destaca Demétrio. "Não se resolve resolvendo apenas coisas
pontuais, e sim apresentando soluções maiores". O diretor alega que o
DER está preocupado com o problema, e o levou à mesa de negociações com o
diretor nacional do DNIT, general Jorge Fraxe, que visitou o Estado
semana retrasada. "Ficamos acertados de encontrar uma solução para
aquele trecho. Ele está incluído nos planos de melhorias nas rodovias,
assim como outras obras, como os acessos ao futuro Aeroporto de São
Gonçalo do Amarante. Tem que pensar num grande projeto como solução para
aquele setor", avisa Demétrio.
Em nível federal, existem
melhorias previstas para ser executadas no Cebolão Igapó, executado pelo
DNIT. Justamente o viaduto tão aguardado por autoridades locais e
usuários das vias. A superintendência regional do órgão, em Natal, disse
através de nota que o projeto está em "fase de contratação de empresa
para elaborar o projeto do viaduto". Segundo o órgão, a intenção é
"solucionar problemas de tráfego na área da BR-101 (Gancho de Igapó)". O
DNIT não informou um prazo para início das obras nem para conclusão do
viaduto.
Apenas cinco fiscais para duas BRsMais
realista é a opinião da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que fiscaliza
o trecho e sugeriu a mudança de fluxo nas duas vias, solução atendida
pela Semob. "A ideia de manter um policial nos horários de maior
movimento não é possível porque nossa equipe de plantão cobre toda a
BR-406 e também a BR 101-Norte. São entre quatro e cinco homens no
máximo por escala de serviço e não é viável para o serviço da PRF
dedicar uma pessoa para ficar ali nos horários de maior movimento",
reconhece o inspetor Everaldo Morais, da PRF. "Durante a ocorrência de
algum acidente, o que tem sido feito é o envio de uma equipe daquele
posto no caminho de Ceará-Mirim para controlar o fluxo", salienta
Morais.
O inspetor contou que os quatro ou cinco agentes que são
escalados por turno no posto da PRF que fica na estrada de Ceará-Mirim
são os responsáveis pelo monitoramento dos 181 quilômetros da BR-406 que
segue da capital até Macau, e da rodovia BR-101 Norte, que vai de Natal
até Touros, distante 98 quilômetros da capital. AfirmaMorais: "Todos
sabemos da necessidade urgente de obras de engenharia naquele trecho do
gancho. Só que hoje o que temos é um problema com impossibilidade de
resolvê-lo apenas com recursos humanos". Sem previsões mais otimistas e
enquanto a solução não vem para os motoristas, haja paciência e engancho
para atrapalhar.
fonte; dnonline